quinta-feira, 27 de maio de 2010

Liberdade

Ultimamente fala-se muito de liberdade no nosso país. Uns defendem o seu valor absoluto e indispensável numa sociedade democrática e civilizada, outros preferem vê-la como um obstáculo ao avanço do país – sugerem, aliás, (com ironia, é claro!) 6 meses de ditadura. A pergunta na boca de todos é se as nossas liberdades devem permanecer intocadas ou ser revogadas. Mas no fundo não acho que seja essa a pergunta essencial.
Antes convém decidir se, no final de contas, nós queremos de facto essa liberdade. Já dizia o tio-avô do Homem-aranha que “com grande poder, vem grande responsabilidade” e o que há de mais poderoso que a nossa liberdade? Que a nossa capacidade de escolher e de discernir? A nossa liberdade não é menos nem mais do que a nossa capacidade de alterar o nosso mundo e o dos outros, por mais pequena que seja a mudança. Que tipo de papel higiénico compro? Vou ao cinema ou estudo? Minto ou digo a verdade? Que curso de universidade escolho? Em que partido político voto? Todas estas escolhas são o exercício da nossa liberdade, e ainda que nem todas tenham um papel marcante na nossa vida, não deixam de ser, em toda a sua essência, um exercício de liberdade.
O problema da liberdade é que é individual. As nossas escolhas, se forem verdadeiramente livres, são nossas e somente nossas, e por isso são inteiramente responsabilidade nossa, tal como as suas consequências. Por isso, retornando ao tio do Homem-aranha, se pensarmos bem, nada é mais assustador que a liberdade – está bem que as consequências da escolha de um papel higiénico não deverão ir além duma comichão bastante incómoda, mas a nossa escolha de um curso universitário afecta todo o resto da nossa vida, e a escolha de um partido político pode atingir todo o nosso país.
Numa sociedade, e especialmente numa geração, em que ninguém gosta de arcar com as culpas e assumir responsabilidades, procura-se alguém que o faça, e que escolha por nós. Liberdade e irresponsabilidade não ligam, não podem. Mas está na altura de escolher entre liberdade e responsabilidade, ou falta dela e irresponsabilidade. E então, o que vai ser?